quarta-feira, 12 de novembro de 2014

RELEASE: CENÓGRAFOS CONTAM SUAS EXPERIÊNCIAS E DISCUTEM A RELEVÂNCIA DO ESPAÇO CÊNICO

Cenógrafos Rodrigo Frota, Eduardo Tudella, Mauricio Pedrosa (Foto: André Araújo)

A cenografia foi a grande estrela da noite nesta segunda-feira (10), no Teatro Martim Gonçalves. Após a exibição de “A Desconstrução do Espaço Cênico: Profissão Cenógrafo” (2009), uma produção do SescTV, profissionais da área compartilharam suas experiências com o público presente.

Eduardo Tudella, Mauricio Pedrosa e Rodrigo Frota contaram como teve início o desejo deles por seguir uma carreira na cenografia. O primeiro a falar foi Tudella. Ele contou que sua ligação com as Artes Plásticas começou já na adolescência, na escola. Mas a pessoa que mais admirou e exerceu alguma influência para ele seguir nesta profissão foi o carpinteiro José Moreira Dalto. O cenógrafo lembrou, na ocasião, que o velório do amigo carpinteiro, que passou a trabalhar com teatro, aconteceu no palco do Martim Gonçalves.

Para Maurício Pedrosa a escolha pela profissão remete a infância. Filho de um arquiteto e de uma bailarina e atriz, a arte pelo desenho já estava presente desde os quatro anos de idade, revela. Ele conta que aprendeu Arquitetura com o pai, e depois estudou Teatro, apesar da dúvida se optaria pela faculdade de Belas Artes.

Rodrigo Frota também comentou que desenha desde criança. Ele conta que sempre quis ser ator. No Ceará, não tinha faculdade de Teatro, na época, e ele começou a fazer outros cursos, dentre eles Arquitetura. Ele chegou a ser assistente de cenografia em paralelo aos estudos. Depois de se mudar para Salvador, Rodrigo conta, orgulhoso, que estudou com Tudella e Pedrosa.  

Depois de compartilhadas essas experiências, o público questionou os convidados acerca de um dos temas abordados no documentário: a atuação do cenógrafo com a caixa preta do teatro (espaço cênico básico retangular com paredes pintadas de preto) e em outros espaços considerados alternativos. Eduardo Tudella enfatizou que “fica a impressão para mim de que o cenógrafo precisa ter flexibilidade. O ser humano em si precisa disso”, afirmou. 

O cenógrafo declarou que não tem nenhum vínculo com nenhuma abordagem estético-poética e que sua inserção com a caixa preta do teatro se dá devido a demanda dos professores da Escola de Teatro da UFBA. Mas ele ressaltou a importância de se manter numa Escola como essa um espaço igual ao Teatro Martim Gonçalves. Ele também revelou que almeja uma caixa preta sem plateia fixa. “Eu sonho com um lugar que você possa tirar as paredes e ficar um espaço aberto aqui na Escola. Mas é muito caro, tem que ter muito dinheiro. Uns R$ 10 milhões”, estimou.

Tudella ainda destacou que é necessário discutir que o espaço teatral começa com o ator. “Penso no espaço físico a partir do performer, porque ele é tridimensional. Preciso compreender o corpo do ator”, analisa. “O teatro não consegue se desvincular do corpo do performer e da imagem (mental e material)”, complementa. 

Rodrigo Frota, por sua vez, acrescenta: “acho que a agente tem que pensar a caixa cênica como a relação entre público e performer. Isso já é um diálogo que começa no teatro dos séculos XIX e XX”.  “Se pensarmos nessa primeira relação, se não tiver um performer e o público assistindo, não há teatro”, argumenta.

Ainda em referência a caixa cênica, Maurício Pedrosa ressalta que “mesmo num teatro italiano [onde os atores ficam de um lado e a plateia de frente] podemos tirar partido e desvirtuar isso”, diz ao se referir as possibilidades que a cenografia tem de modificar o espaço cênico, inclusive do lugar onde o público fica assistindo o espetáculo.

Eduardo Tudella pontua ainda que a ideia de que o público está vendo passivamente um espetáculo, em um teatro italiano, por exemplo, não é correta. “O ser humano não consegue ver apenas, mas guarda outros elementos dentro dele. Ninguém consegue ser apenas um espectador. Ser passivo. Porque tem ligação com outros sentidos”, avalia. “O espaço teatral é infinito e começa com o corpo do performer e se expande [para a plateia]” conclui. 



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