quarta-feira, 22 de outubro de 2014

RELEASE: HISTÓRIAS DO GRUPO GALPÃO INSPIRAM GRUPO DE TEATRO BAIANO FINOS TRAPOS


Mestrandos e membros do Grupo Finos Trapos Polis Nunes e Thiago Carvalho (Foto: Lilih Curi).


A trajetória do Grupo de Teatro Galpão concentrou as atenções dos convidados e da plateia presentes no Cine-Teatro na Escola, na última segunda-feira (20), no Teatro Martim Gonçalves. Através do documentário “Grupo Galpão” (2009), dos diretores André Amparo e Kika Lopes, o público riu e se emocionou com os relatos narrados no longa metragem. As histórias do grupo, fundado em 1982, em Belo Horizonte (MG), promoveram também reflexões sobre a importância da formação de grupos de teatro no Brasil, dos obstáculos enfrentados, e dos sucessos obtidos por eles. 

Esta foi a sétima vez que o Projeto Cine-Teatro na Escola realizou o encontro com professores, artistas e estudantes. Já foram exibidos os filmes “Mário Gusmão: O anjo negro da Bahia”, junto com o curta metragem ODU (08/09); “Slava’s SnowShow (15/09)”; “A Aventura do Théâtre du Soleil (22/09)"; e “Em Quadro: A História de 4 Negros nas Telas (29/09)”, “A Vida de Bertolt Brecht” (06/10); e “Jogo de Cena”(13/10). Na próxima segunda-feira (27) serão exibidos o documentário “Yumara Rodrigues – Uma Diva nos Palcos da Bahia” e o curta-metragem “Perfil - Harildo Déda”.

A primeira a falar sobre o Grupo Galpão, na noite de segunda-feira, foi a mestranda em Artes Cênicas, Polis Nunes, que também faz parte de um grupo de teatro – Finos Trapos. Polis é uma das fundadoras do grupo baiano, oriundo de Vitória da Conquista. Para ela, o Galpão é uma referência para qualquer grupo. Em sua atual pesquisa, a artista informou que está estudando os modos de produção de dois grupos, dentre eles o Galpão. 

Em relação a Finos Trapos, que já tem 11 anos de existência, Polis disse que tanto a linguagem quanto a continuidade do Galpão são referências para eles. Outro ponto destacado, é que no Galpão, não há um diretor fixo. “Estão sempre num processo de diálogo com o grupo”, diz Polis, ao ressaltar mais uma característica de identificação da Finos Trapos com o Galpão.

A questão da memória do grupo mineiro também foi destacada por Polis, que chegou a participar de uma das oficinas promovidas pelo grupo em sua sede em Belo Horizonte. Ela revela que um dos integrantes do Galpão, Eduardo Moreira, escreveu um livro que conta detalhes do grupo. O material audiovisual do Galpão também chama a atenção. “Fiquei impressionada que eles têm imagens de tudo. Eles tiveram esse cuidado. Eles já estabeleceram uma organização desde o princípio. Eles queriam viver daquilo”, comenta. 

Outra curiosidade sobre o Galpão é que até hoje eles continuam passando o chapéu em suas apresentações. Segundo Polis, isso ocorre não só pelo simbolismo, por ser um grupo de artistas de rua, mas porque marca muito o início deles. “Hoje eles contam com uma equipe de produção e assessoria de imprensa. Isso é uma conquista que foi feita paulatinamente”, pontua. 

Thiago Carvalho, que também faz mestrado em Artes Cênicas, e é membro do Grupo Finos Trapos, desde 2010, falou sobre sua experiência no Galpão - ele participou do Cine Horto. Thiago contou que lá aprendeu a produzir e gerir o próprio trabalho. “Entrava de manhã às 7h00 e saia às 10h00 da noite. Éramos muito diferentes... Tinham representantes de cada estado do país, mas foi interessante para me fortalecer e dizer: É! É isso o que eu quero!”. Atualmente, ele pesquisa coletivos de teatro dos anos 1970.

Ainda em se tratando da estrutura do Galpão, Thiago diz que eles têm o próprio selo, livros de dramaturgia, boutique, etc., tudo para angariar fundos. Ao fazer um paralelo com a Finos Trapos, Thiago relata algumas dificuldades enfrentadas pelo grupo, tais como, a falta de uma sede para ocorrer os ensaios e para guardar o material cenográfico. Polis Nunes lembra que precisou doar grande parte do material cenográfico por falta de espaço para guardar. 

Continuando na análise da situação dos grupos de teatro na atualidade, Thiago citou uma entrevista que assistiu, do ator Marco Nanini, na qual ele afirmava que hoje é muito difícil produzir um espetáculo sem muito dinheiro. “Isso é verdade. A gente precisa ter dinheiro”, diz Thiago. “Não dá mais pra trabalhar de graça. Essa rotina de grupo tem mexido muito conosco. E ver o Grupo Galpão faz a gente pensar que queremos uma qualidade de vida”, desabafa.

Polis argumenta ainda que o Galpão faz o espetáculo circular e ficar em cartaz por muito tempo. “Hoje tem espetáculo que não tem vida muito longa. Isso acaba esbarrando na questão financeira. Muitos grupos tentam fazer essa circulação, mas, geralmente, é preciso financiamento. Essa é a realidade hoje”. 

Na ocasião, a plateia questionou o posicionamento do Grupo Finos Trapos quando os atores sentem a necessidade de atuarem em outros grupos para se manterem financeiramente. Polis revela que hoje isso é mais tranquilo. “Já tivemos crises porque alguns membros precisavam fazer outros trabalhos, mas isso só o tempo ajudou a entender, só com a maturidade do grupo. É bom que a pessoa saia e volte renovada, com outras referências, outras estéticas. Já foi um problema, mas hoje não mais porque tem diálogo”. 

Polis informou que entre 2009 e 2010 houve alguns desligamentos no Grupo Finos Trapos. Hoje são cinco integrantes, mas chegou a 11 nos tempos áureos. “O repertório é o que mais influencia no desligamento do grupo. Não conseguimos fazer a substituição, às vezes por questão de vaidade do ator mesmo. E tem a questão da estrutura, às vezes o espetáculo deixou de existir porque não tinha ator”.

Diferente do contexto em que o Grupo Galpão foi fundado, Polis destaca que “hoje a gente pode pensar quais as perspectivas do artista: Querem fazer teatro de grupo? Ou ser mais independentes? Ou se unir a um grupo que tem uma montagem?”. Ela ressalta ainda que existem mais oportunidades na área acadêmica e com as Políticas Públicas de Cultura, que na época em que o Galpão começou não existiam.

Por fim, para resumir a importância da existência de grupos de teatro como o Galpão e Finos Trapos, vale destacar uma frase dita por Thiago Carvalho durante o encontro: “Acredito que juntos nós somos mais. O que eu não tenho, o outro tem”. 



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