terça-feira, 18 de novembro de 2014

RELEASE: TRAJETÓRIA DE NILDA SPENCER É DESTAQUE EM EVENTO NO TEATRO MARTIM GONÇALVES

Jornalista e escritor Marcos Uzel e o diretor e dramaturgo Paulo Henrique Alcântara (Foto: Lilih Curi)


A noite chuvosa desta segunda-feira (17) foi aquecida pelas lembranças da participação da atriz baiana Nilda Spencer na dramaturgia brasileira. A partir da exibição da produção audiovisual “Nilda Spencer: Especial TVE” (2003), convidados e plateia comentaram a vida e obra da artista. O encontro ocorreu no Teatro Martim Gonçalves.

A homenagem é uma iniciativa do Projeto Cine-Teatro na Escola, que realiza encontros gratuitos semanais, sempre às segundas-feiras às 18h30, para discutir a relação teatro/cinema. Até o momento, já foram exibidos os filmes “Mário Gusmão: O anjo negro da Bahia”, junto com o curta metragem ODU (08/09); “Slava’s SnowShow (15/09)”; “A Aventura do Théâtre du Soleil (22/09)"; e “Em Quadro: A História de 4 Negros nas Telas (29/09)”, “A Vida de Bertolt Brecht” (06/10); “Jogo de Cena”(13/10), “Grupo Galpão” (20/10); “Yumara Rodrigues – Uma Diva nos Palcos da Bahia”, junto com o curta metragem Perfil – Harildo Déda (27/10); e É! Évoé! – Retrato de um Antropófago (03/11); e “A Desconstrução do Espaço Cênico: Profissão Cenógrafo” (10/11).

Para o bate-papo da noite, após a exibição do filme, estiveram presentes o jornalista e escritor Marcos Uzel e o diretor e dramaturgo Paulo Henrique Alcântara. Marcos Uzel começou afirmando ser uma honra falar sobre memória e Nilda Spencer. O jornalista está desenvolvendo sua tese de doutorado baseada na atriz. Podemos dizer que é uma biografia extensa da artista. Sobre a importância de manter a memória, ele declarou: “As coisas são efêmeras. Se a gente não registra, já foi”.

Já Paulo Henrique Alcântara começou agradecendo o convite do projeto e elogiando a iniciativa de diálogo das artes – teatro e cinema. “É um projeto que acho muito bacana e muito positivo. Cinema é memória”, destacou.

Ao comentar a exibição do documentário, Paulo Henrique afirmou: “Ela [Nilda Spencer] era uma grande atriz e, a medida que o tempo foi passando e ela foi ficando idosa, não perdeu a inquietude artística”.

No filme, há trechos em que a artista fala sobre o espetáculo “Lábios que Beijei”, cujo autor e diretor é Paulo Henrique, na época, um jovem diretor. Paulo faz questão de ressaltar a confiança e a prontidão com que Nilda aceitou participar do espetáculo. “Foi meu terceiro espetáculo. Com um texto meu. Ela gostou e aceitou”, lembra. 

Paulo Henrique também salientou a disponibilidade da atriz nos ensaios. “Ela tinha quase 80 anos, mas se colocava num estado de prontidão. O ensaio era algo absolutamente precioso. Ela não se furtava a nada”. Ele ainda detalha que “no primeiro dia de ensaio ela virou para mim e deixou uma coisa clara: – Quem manda aqui é você. E eu vou me colocar nas suas mãos”, disse Nilda a Paulo.

Marcos Uzel lembra que Nilda era uma mulher que ousava muito. Mas, para ele, o momento em que ela mais transgredia era quando acolhia os jovens artistas. Ele citou entre esses trabalhos “Meteorango Kid - Herói Intergalático” e “Caveira My Friend”, ambos de André Luiz Oliveira.

Questionados pela plateia sobre a formação artística de Nilda Spencer, Marcos Uzel explicou que a atriz aprendeu muito com Martim Gonçalves - nos anos 1950 ela foi convidada por ele para fazer uma leitura do texto “Auto da Cananéia” de autoria de Gil Vicente, nas instalações provisórias da Escola de Teatro, e a partir daí começou sua carreira profissional como atriz.

Nilda também foi professora da Escola de Teatro da Ufba. “Ela era uma professora de dicção muito formal. A transgressão dela era com os personagens e a boemia na rua”, conta Marcos Uzel. Paulo Henrique também lembrou que Nilda era fã do cinema hollywoodiano e que aprendeu inglês assistindo aos filmes. “Ela decorava os textos e repetia”, diz. 

Nilda Spencer morreu em 2008, após atuar em 50 espetáculos teatrais e 13 produções audiovisuais. Ela é considerada a dama do teatro baiano. “Ela não é a dama porque é a melhor, mas um conjunto de fatores a notabilizam assim. Ela tem carisma, capacidade de criar uma teia de relações. Ela é essa dama da sociedade. É ao mesmo tempo tradição e também ruptura. Ela era simples e leve”, conclui Marcos Uzel.




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